segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Anjos e corças

 
 
 
Minha poética
está morta
sem desejos
poeira de passagens
entre amores
vazios e omissos
 
lembranças vãs 
engaioladas
na árvore da vida
 
a alma grita
esfacelada
não há asas
entre vísceras
 
existem almas próximas
e infrutíferas
a brevidade é a carne
e volátil é o desejo
 
não ouse o sonho
erga-te sem Dédalo
sem Ícaro
 
 não há sol
que leve ao esquecimento
nem horizonte que
traga um cais seguro
 
tateie estrelas por intuição 
já que seus pés
cansaram de sonhar
um futuro com
pássaros livres
e homens reféns de
ávidos heroísmos
 
 
 
 
 
Adriane Lima 
 
 
 
 
 
Arte by Istvan Sandorff

Indissolúvel



Dê a cara a tapa
ao poema, trema,
entre o sofismo de
teu pulsar caótico
e o hedonismo de minha
poesia que te usa
como musa
 
dê a cara
tenha coragem
de cair do mais alto
de meus versos
 
aceite o desafio
com delicadeza
sei que prefere
o açoite de tua vileza
 
para depois gritar
aos sete ventos
que a efemeridade
de um poema 
não vale um grão
de minha atitude





Adriane Lima










Arte by  Johanne Cullen

Sem atenuantes





Fui sendo vento
gelando o corpo
em febre
fui sendo sol
aquecendo o dia
de leve
 
fui sendo passos
seguindo a trilha
sem desvios
fui sendo olhar
perdendo a vontade
do calafrio
 
fui sendo humana
universos traçados
em mortes lentas
fui sendo pedra
fechando abismos
em carnes tenras
 
fui sendo cor
grafites nos muros
ofuscados
fui sendo dor
fomes, misérias 
o amor negado 
 
fui sendo a redoma
que enfeita o mundo
de cuidados
 
fui sendo,  fluindo,
nem sendo, sentindo
só indo ...
 
matéria do mais
profundo lacre
me vi rindo e engolindo
o último gomo
de um fim de tarde









Adriane Lima






Arte by Alla Shchullk 
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