terça-feira, 21 de março de 2017

A epiderme cálida



Lateja in memorian o que sinto
a carne de outrora
não satisfaz mais o desejo
o mundo se acostuma
ao que é do homem

Volúpia consumida entre dedos
escorre por todo corpo
indiferente a dor alheia
que sabíamos ser o escape
ou solução ao segredo

Se pudesse encontrar uma palavra
que descrevesse tudo que penso
dessa vaziez de sentimentos

Cárneos, olhos carmim
o cheiro do desconhecido
nos corpos nus amanhecidos
sonhamos ser o que não somos

A carne saída do cotidiano espelho
carne da tua carne
eu não a adentro, ela adentra em mim

Penumbra difusa que atravessamos
projetada no vil entalhe 
que já não importa tanto
o que tínhamos em mãos 
era tão mais significativo

Vocifero o que não pode ser domesticado
a dor, ao que verdadeiramente sentíamos
era gozo de alma, na leveza que aos poucos
habitavam seus olhos ternos 
e foi morte aos atos provisórios de outros

hoje mundos desabam onde
a carne respira mesmo distante
entre ensejos falaciosos e indiferentes




Adriane Lima



Arte by Cristhina Fornarelli


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