sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Soturno



Salpiquei estrelas na noite
e as colhi no jardim
de azuis tornaram-se carmim
despi-me da intimidade
pétala por pétala
e meu cheiro de saudade
foi levado pelo vento

Sentimento à flor da pele
desenhando nuvens
na imensidão do céu
maravilho-me ao pensar
que ali, o imprevisível
poderia habitar

Água clara que escorre
percorre trilhas tortuosas
vida que segue e ninguém empurra
saltando pedras como quem flutua
num livre arbítrio de espumas

Sorriso frouxo, desejo incontido
animais domésticos protegidos
canteiro de ervas aromáticas
lavanda, alecrim e hortelã
em minha cesta de vida vã

Conheci o que nasce livre
sem que ninguém venha e semeie
o sereno vestindo a relva
me orvalhei a madrugada inteira

Adormeci acalentada pela música suave
e me despertei para o mistério que havia ali
a certeza de que em algum canto
estava o perecível que altera tudo

Era o tempo
tempo que ritmava a vida assim
e que marcaria cada um de nós
até o fim

 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
Arte by David Graux 

Leve-me leve




Súbito poderia dizer-me :
perdi, perdi, perdi
E então,poderia dizer-te:
aceita-me e me recria
como nunca fui antes
Faça-me ser inteira
como alguém de verdade
e não passageira
feita de tuas veleidades
Acolhe-me em teus braços
onde me sentirei segura
seja meu porto,minha margem
reforce minhas estruturas
Receba-me verdadeira
cansei de ser várias partes
 no mundo que me rodeia
Carrega-me nessa viagem
ventania em sua aragem
toca-me a pele concreta
diga-me não ser incerta
Embala-me nesse ritmo de vai e vem
entre a vida e morte
que nos contêm
entre a morte e a vida
que nos convêm


Adriane Lima

Amores Servis



Ele deu para ela tudo
diante do amor e suas certezas
sua visão de paraíso
sua sombra de delicadeza

Perfume francês
óculos italiano
vestidos bordados da Índia
vinhos africanos

Amaram-se em lençóis de linho espanhol
ao lado da cômoda inglesa
comeram chocolates belga
vendo fotos de Veneza

Tango argentino
sedas da China
sapato alemão
velas,incensos da Tunísia
anéis,colares,pulseiras
adornavam a sua menina

Amaram-se e desamarram-se
sob límpidos céus azuis
passaram juntos nove agostos
entre o amor e seus encantos

Ele a perdeu de vez
e hoje,sangra sua dor
em um pobre hotel mineiro
Foi-se o amor,ficou a lembrança
De um homem que nunca foi levado a lua


 
 
Adriane  Lima
 
 
 
 
imagem retirada da net 

Amor Surrealista




Era eu, teu habitat
pisoteado quadriculado
de teu bel prazer
era eu o silêncio de tuas esperas
de tuas melancolias
e de teus calafrios noturnos

Sem saber era o teu sono
respiravas-me em invisíveis aromas
e assim presa em tuas redomas
passava as quatro fases da lua

Me emolduravas a toda hora
me encaixavas em toda parte
e sem saber já era o molde
de tuas peças desgastadas

Depois, fui abandonada
e numa estante colocada
junto aos teus livros já lidos
e teus papéis esquecidos

Minha dor se juntou ao bolor
de tua parede da memória
onde insólita fiquei.  
Sei que não sou perfeita
por mais que tenha flores
já perdi todas as cores

E todo brilho que me deste
foi colocado num sonho
que em meus dias indago
porque foi o abandono ?

Hoje sou enfeite sem apreço
e todo amor que te ofereço
ficará comigo guardado
nessa dor que me tortura

 
 
 
Adriane Lima
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