domingo, 30 de junho de 2013
Espaço metafórico
Ao céu azul que nos protegia
te dei meus continentes
pedaços soltos de meu mundo
e pedi que os juntasse
foi minha grande elegia
por acreditar que ainda existia
um amor perdido em mim ...
Adriane Lima
Arte by Lisete Alcade
Enluarados
Nós dois, observamos a lua
cheia
fomos sugados por sua
beleza
por lá ficamos em suas
fases
por lá minguamos nossas
certezas
Adriane Lima
Arte by Umberto Manzonne
Tecendo o mundo
Eu sou a presa
nessa imensa teia
que é o mundo
serei devorada
quando ele assim desejar
não há portas
nem janelas
para escapar
eu sou a presa
desse animal faminto
que tudo observa
e me devora aos poucos
já atou meus pulsos
já cortou minhas asas
já sugou meu sangue
já me tem imóvel
esse é o princípio
de sua preparação
já não me pulsa a pressa
observo tudo calada
eu sou a presa do mundo
hoje esperando ser devorada
imensa teia das horas vazias ...
Adriane Lima
Arte by Jon Paul
sábado, 29 de junho de 2013
Clara receita
E de repente percebo
que você não se rende
mas, também
não aprende
que há transparência no voo
e querência no desejo do pássaro
que tudo tem gosto
e dá pra sentir
que tudo tem peso
de afundar ou emergir
que tudo faz sentido
mesmo que seja proibido
que tudo está escancarado
mesmo que olhes para o lado
os teus desejos contidos
irão para fervura
e lá serão cozidos
em águas passadas
e logo pela manhã
retornarás cansada
serenidade lavada
meio dormindo
meio acordada
sonâmbula escolha
em fugas cheia de delicadezas
sorvendo a beleza
desse sofrido amor
Adriane Lima
Arte by Ron Monsma
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Em falso
Falso profeta
falso brilhante
falso temor
falso farsante
criei asas e voei
acordei desse silêncio aconchegante
eis o instante
eis o véu retirado
o fio da seda super estimado
ruiu e quebrou-se o encanto
lagarta criou asas
nasceu borboleta
agora?
é só o vento
que me carrega
Adriane Lima
Arte by Hdk Morimoe
Alforge
Aos olhos do mundo
ecoam gritos perdidos
do mar aos cais
soam ganidos
gemem homens
como animais sofridos
um eco aflito
um sopro de luz
amanhece hoje escondido
onde ruirá a corda frágil
onde estará a vidraça a ser quebrada
onde estará a cabeça a rolar
onde ?
onde a verdade foi morar...?
visto uma máscara
e um casaco de pele
saio em busca da palavra
essa que ninguém responde :
justiça ...
Adriane Lima
Arte by Graeme Balchim
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Palavras no corpo
O meu verbo emudeceu
passou a morar no interno
dentro de mim
não conjugou-se
aquietou-se
lá ficou a observar
a ação que estava fora
parado, atento
não deixou o corpo comandar
impulsos, soluços, sentir
para quê??
colocou os olhos
a andarem de um lado a outro
ação de pensamento
fez as mãos no ar tocarem o nada
e assim me vi :
imaginando tua face em pontas de dedos
estremecendo meu corpo em saudade
Adriane Lima
Arte by Adan Martinakis
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Métricas silenciosas
Há uma lacuna
entre a voz e a palavra
há um silêncio
entre letras soltas
e um caderno jogado ao chão
a poética adormece
em um canto latente dentro de mim
não há notas
somente noites
onde pareço aprendiz
dessa viagem encantada
o que um dia nascera do nada
também feneceu
a flor dos poemas secaram
como secam lágrimas
como evaporam mares
como exalam suores
adocicado sal das dores
e nesse átimo de tempo
entre o desejo de escrever
e o ato de esquecer
vou aprendendo a viver
minha quietude
como se soubesse desabotoar
o tempo das rimas à esmo
desfaço os versos
e dentro desse mágico instante
percebo minha melhor derrota
a de saber-me
dona de minhas falas
e ter sido autora de meus silêncios
hoje,me dei conta do frio invernal
hiberna em minha boca
o gosto de um dia de sol
onde não há pressa
sei que as estações mudam
a flor da poesia me aguardará
em um coração primaveril
Adriane Lima
Arte by Hernan Javier Muñoz
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Mimetismo poético
Eis que a vida poética
imanta a realidade
eis que o amor me acontece
envolto em singularidade
eis que a vida real
preparou silêncio em palavras
poemas outonais caíram de mim
feito folhas em tardes caladas
tão natural, me vi poeta nua de rimas
tão natural, me vi mulher vestida de amor
minha vida poética
se auto plagiou
Adriane Lima
Arte by Erika Yamashiro
Entre laços e asas
Corpo mar
sob concha entreposta
alimentando pernas e braços
ao sabor de lascivos sonhos
corpo aconchego
aproximando bocas
marcas de saliva e suor
contemplamos desejos
corpo abrigo
leveza estrelada
flores e borboletas encantadas
em nossa nudez perfumada
transpassamos os lençóis
corpo em nós
concreta pele
emoldurado abraço
onde teu cheiro amadeirado
encanta-me em vida
a magia de tocar além
Adriane Lima
Arte by Stasia Burrington
quinta-feira, 20 de junho de 2013
Longitude
Tudo é perspectiva
até onde o olho alcança
o trigo que faz o pão
tem os cílios da esperança
Adriane Lima
* Imagem retirada da Net
terça-feira, 18 de junho de 2013
Elo invisível
Entre o bem e o mal
a linha é tênue
entre a luta e o descaso
a linha é tênue também
a linha é tênue
entre a luta e o descaso
a linha é tênue também
por trás de um muro
há uma luz que habita
a consciência,meu bem
há uma luz que habita
a consciência,meu bem
em jogo duro,uns embatem
outros se acovardam
mas todos são reféns
outros se acovardam
mas todos são reféns
em tempos de guerra necessária
a indiferença não convém
é nessa hora que sabemos
ao que se aferir valor
a indiferença não convém
é nessa hora que sabemos
ao que se aferir valor
nessa hora caem
máscaras,
poder e carcaças
máscaras,
poder e carcaças
e o que se equilibra
em linha tênue é a mais pura
energia de um
universal amor
em linha tênue é a mais pura
energia de um
universal amor
Adriane Lima
Arte by Ron Monsma
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Escolha mortal
Há uma mariposa
negra no
teto
buscando luz
há a percepção
de meus olhos brandos
cheios de boas intenções
permeando os caminhos
entre o discernimento
do que seria para ela a morte
ou a minha saída desejada
abro as janelas
mas, ela prefere se atirar
ao calor da morte
ao que o destino supôs
ser a bela visão paradoxal
de meu lirismo tóxico
por amar a imensidão
ou a empáfia
da escolha entre liberdade
e luta vã
não há como negar
o involuntarismo em asas
de um impulso fatal
como os joguetes da vida
lá fora flores
botânicas saídas
e ela presa não percebe
escolher a morte
assim vencida
segue em direção
aquilo que
acredita ser a vida
Adriane Lima
Arte by Christin Scholoe
Chave alquímica
Às vezes é tão fácil
vestir a carapuça
usar a mesma blusa
amassar o próprio pão
-às vezes não
mais fácil falar do ácido
que corrói a carne
que machuca em tempo
de ser decisão
entre o elevador e a pressa
as vezes muro, as vezes dura
é a constatação
a flecha que alcança
que faz a curva
a linha da espera
o frio na barriga
a verdade estampada
a visão que corta e sangra
onde não há palavra nem salvação ...
Adriane Lima
Arte by Christian Schloe
terça-feira, 11 de junho de 2013
Dois olhares
Há uma única estrela no céu
nesse instante
Claro que é apenas
a que meu olhar alcança
Assim como o amor
onde há inúmeros peixes
em mares distantes
e meu desejo é único
e limitado em visão de aquário ...
Adriane Lima
Arte by Matteo Arfanotti
Filosofia Poética X
Fazer caridade é um bem imensurável,
mas acredite, para cada um de nós existe o gesto certo,
pergunte à sua alma sem máscaras
e ela te responderá o que verdadeiramente
cabe a você fazer ...
Adriane Lima
Arte by Malcon Liepke
segunda-feira, 10 de junho de 2013
Poema da noite
Em um canto da lua
o amor flutua
serenando estrelas
ao fitarem a rua
esquecem a saudade
Adriane Lima
Arte by Ting Yuen
domingo, 9 de junho de 2013
Passado a limpo
Não espalhe as nódoas
de teu amor ressentido
talvez houvesse flores
entre teus medos escondidos
não jogue aos sete ventos
um novelo de açoites
mesmo com todo silêncio
em tua sombra eu pressinto
o sal ,o desgosto,
o ataque do bicho faminto
de mágoas eu entendo,
me perguntes
eu não minto
estreitos dias de rotina
em que contarias nos dedos
o sorriso já extinto
mas hoje de teus lábios
saem arenosos rancores
onde sonhos adormeceram
eu sigo, tirando a poeira
do caminho ,amansando o tempo
e então penso com alívio
que o abismo que nos separa
poderia apenas ser a poesia
buscando a força nas palavras
e a fragilidade na ação
já que nunca me perguntastes
onde o verbo mora
se pudesse te diria
que é em outra dimensão
não me sigas se lá eu for
há um punhado de gestos inatingíveis
a verdade silenciosa morrerá em meus olhos
pelas palavras interditas na sublimação
Adriane Lima
Arte by Christian Schloe
quinta-feira, 6 de junho de 2013
Flutuante
Em meus sonhos
cavalos alados
me levaram ao mar de poesia
o mar ria
e eu devolvia
maresia de saudade
Adriane Lima
Arte by Christian Schloe
quarta-feira, 5 de junho de 2013
Ausências
Hoje o único peso
é a tua ausência
é ela que me dá medo
quando me vejo voltar
para ver se não deixei
o fogo aceso
Adriane Lima
Arte by Christian Schloe
Anoiteceu em mim
Eu sempre fui mais lunar que solar
a escuridão sempre me banhou
sinto-me inteiramente límpida
há um brilho que me veste
diante desse escuro breu
onde revisito claridades
em mim abrem-se janelas
esvoaçam cortinas
quase que por encanto
há uma imensa solidão de casa
onde meus passos intermitentes
seguem de um lado a outro
através dos cômodos
corro até o quintal
e ao olhar para o céu
me vem o incomodo
da aflição suprema
um céu sem estrelas
um chão de silêncios
era eu e meu cão
sentados a esperar
o que para cada um
significasse : felicidade
Adriane Lima
Arte by Ting Yuen
terça-feira, 4 de junho de 2013
Poema do Sol em Lua
Os poemas fugiram com a minha dor
rebelaram-se e gritaram :
-não queremos ser assim autobiográficos,
ter esse ar de desamparo
e um certo escárnio da visão de quem nos lê.
não...
queremos falar palavras suaves
brincar de eternidade
fecundar o vento com boas novas.
não...
nada de escuro breu e alardes
em ver corpos caírem
após a alma jurar plena comodidade
não...
nada desse lirismo dantesco
e febril de paixões pela lua
nada de rimas e métricas
feitas por um escritor solitário
guardaremos os seus motivos e mistérios
e assim seguiram encantados os poemas
rindo de mim e meus problemas
e nessa hora descobri que estava
-completamente nua-
Adriane Lima
Arte by Michael Cheval
domingo, 2 de junho de 2013
Profano amor e dor
Enfim, ela confessou:
o poder de sua alma
entregue a um deus
não sabe-se, Asteca ou Maia
ou se fora a um pobre fariseu
de seus sonhos indecentes
sua alma desde menina
trouxe consigo a sina
de uma princesa lasciva
de extrema beleza
que envenenou o amado
um pouco Cleópatra
um pouco Afrodite
a força de Lilith
vinda do escuro
mistificadas arderam
no furor de intensas feras
misturadas a docilidades de mel puro
por terras distantes
vagaram em busca de almas livres
como a minha ou a sua
para serem ofertada aos deuses
por alguma quimera
atrocidades de escolhas mundanas
de outras eras
fogo,pólvora
ardência de inferno
águia , cobra
lebre ou cadela
menina,mulher
rainha,escrava
carregou em si formas e avessos
de santas e devassas
labirínticos amores
perderam-se em suas mãos
expressivos rancores
rastejaram-se pelo chão
todos através dos tempos
ouviram os gritos da alma
eis a razão libertária
para não sacrificarem o amor
e sim,coloca-lo em redomas
nos corações de Evas
até que ele ganhasse ,a esperada sete vidas
Adriane Lima
Arte by Fattah Abdel Hallah
Poder de Titãs
Alguém lá em cima deve rir
de meu dedo podre e caolho
alguém lá em cima deve rir
quando erro o tempero do molho
alguém lá em cima deve rir
de meus tropeços e presepadas
alguém lá em cima deve rir
de todas as palavras aqui trancadas
alguém lá em cima deve rir
das ausências em meu presente
alguém lá em cima deve rir
de todo tempo que fui ausente
alguém lá em cima deve rir
desse meu questionário humano
alguém lá em cima deve rir
de todos meus medos e enganos
alguém lá em cima deve rir
dos tombos que levei vida a fora
alguém la em cima deve rir
por tudo que já foi embora
alguém lá em cima deve rir
por todos os cabelos brancos
que eu teimo em tingir
alguém lá em cima deve rir
de todas as dores que finjo não existir
alguém lá em cima deve rir
do que chamei poesia
alguém lá em cima deve rir
por minha vida estar vazia
alguém lá em cima deve rir
da eternidade do meu espírito
alguém lá em cima deve rir
dessa solidão impregnada onde rio
de mim mesma ...
Adriane Lima
Arte by Michael Parkes
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