quinta-feira, 2 de julho de 2015

Dentro de minha ausência





O relógio corre
através da tarde vazia
o frio debruçado na janela da alma
enche as nebulosas de meus olhos
da água de um rio tão íntimo
 
Com esses olhos posso ouvir
a pulsação de minha alma
e sentir todo movimento
que atravessa a nesga do jardim
visitado por insetos e pássaros
que quebram o silêncio
ecoando meu grito :
 
Estamos vivos...
eu, os insetos e o pássaro
servimos para compor o dia
 
O pássaro espreita no muro
sem cantar e em passos seguros
entrega-se em um voo rasante
e devora o inseto pousado na flor
 
Na brevidade da vida, não há camuflagens
o pássaro não tem medo de mim
o inseto não tem medo de mim
e eu tenho
 
 




Adriane Lima















Arte by Andrea Chisesi

Saída de emergência

 
 
Amado
esse ver(soul)
de blues que me embriaga
traz água para minha sede
que nunca trago
 
Carrego entre parênteses
um grande estrago
 
Um pacto com a
mediocridade de viver
que me convida a ser só
 
As noites insones
indiferentes a toda dor
que me consome
 
Minha ambição
é sair pelas ruas vazias
olhar nos olhos
de um desconhecido
e entender que nele me identifico
 
Sou a glória personificada dessas
paredes cheias de memórias
o pó pesando nos móveis
sobrevivem aqui comigo
 
liberdade está lá fora
e não há nada que apague
a luz desse amanhecer
que vem de graça
e tenho pago um preço
...tão alto ...
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
 
 
Arte by Anton Kanchev

Sem avisar a solidão





Rasgo o tecido invisível
que me cobre e teima em
não soltar de meu corpo


Despida de toda delicadeza
a frágil existência humana
grita minhas vontades


Começo a mentir por precaução
e por recomendação do vento
que toca minha pele nua
mostrando a frieza dos dias


A dor vem da verdade dos fatos
de não saber fechar ciclos
conter no peito gritos
e enfeitar roteiros


Minhas intuições são claras
e ao transpô-las em palavras
sufoco minha fala


Não são asas, são cascas ilusórias
de uma felicidade equilibrista
mundana e idealista


Sim, era eu aquela envolta em beleza
e hoje me sangra o peito em carne viva
ao juntar pedaços da memória
de cada história interrompida


Eu sempre hesito ao
dizer que não há culpados e apunhalo
com a leveza de um único golpe
o meu corpo saudosista
















Adriane Lima










Arte by Christian Schloe
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