sábado, 11 de agosto de 2012

Reflexivo liquido

 
 
 
Olho o cálice
de vinho tinto
e nele me vejo
e tudo que sinto

são memórias

as dores rubras
da árvore da vida
plantadas em solo
e pouco amadurecidas

a dor é madura
o fruto não

fruto de sangue
nas paredes
hoje intocáveis
meros retratos

lembranças vivas
de onde misturo
golpes suaves
golpes duros

dores d'alma
pelo tempo envelhecida

por saber-me liquida
internamente
deitei-me
em águas turbulentas
colhi rosas
perfurei-me
e então vazei

fui do céu ao inferno
em segundos

meu mundo
afunilou-se
e no vinho
aniquilei o
sangue
da vida

e provei do
ácido gosto
de um dia ter sido
o que na verdade nunca fui

embevecida
entornei o cálice
como quem peca
como quem erra
como quem morre

embriaguei-me
da solidão e
com ela brindei

amargas verdades
em adocicadas palavras
que hoje me fluem ...

 
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 ( imagem by Immaculada Juarez )

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