sábado, 30 de novembro de 2013

Reminiscências de um diário amoroso





 
 
Não consigo sentir nada
e o nada dói muito
sinto-me vazia de sentimentos
com as mãos cheias do mundo
 
na boca um gosto
desse dia amanhecido
 
onde pedi à você
ame minha alma dolorida
e não faça amor comigo
 
habitamos as irregularidades
do tempo e transitamos
sentimentos intransitivos
 
há eu e você
sem plural
- nós 
singularmente
não temos nada
e queremos tudo
 
verbos usados
amores antigos
 
ver-te
tocar-te
partir-me
sofrermos
 
de repente essa indecisão
por saber que nunca fui o
que você desejara que eu fosse
 
nasci com o gosto e gozo
da liberdade entre as pernas
cravei em mim certezas
que hoje me fazem amargar
 
o amor não se constrói
o amor é sublimação
 
quem ama quer possuir
eu só pude te dar essência
do que tinha comigo aqui
 
vivificamos em carne
nossa relação impessoal
onde me remetia a frase de Rilke :
 
 
- " Amor são duas solidões 
protegendo-se uma à outra. "
 
 
 
 
 
Adriane Lima  

 
 
 

 
Arte by Zoltan Molnos
 

3 comentários:

  1. I
    "...o discurso amoroso é hoje em dia de uma extrema solidão." Roland Barthes
    Construímos nossa própria solidão, pela negação, pela sublimação, pelas vicissitudes de não dar ao corpo o que a alma deseja...

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  2. II
    "Ser feliz no contemplar. com a vontade amortecida, sem a garra e a cobiça do egoísmo - frio e cinzento a vida inteira, mas com bêbados olhos de lua!"
    ...
    a isso Niesztche chamava de calúnia, de covardia... somente a vontade de amar e morrer é a vontade de potência...

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  3. III:
    "amar é desejar ao outro, mas é também desejar que o outro nos deseje. Amar é desejar o desejo do outro" Hegel...

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