Tempestade em sedes

 

O derra(mar) era intenso

oceano de sentimentos

ondas a se chocarem

feito em rochedos.

 

Transfigurávamos marés voláteis 

formando sensações

permeáveis em

ásperos fragmentos.

 

Sedimentares ficamos,

entregues à força da água e sal

habitados por intensidades diferentes.

 

Visitamos o insondável no

peito adentro

- eterno ir e vir

- pertenço, não pertenço

 

Nesse oceano de sentimentos

ora hermético, ora contínuo

ficamos reféns das marés

 

Mergulhamos em perplexidades

sensoriais represando entre nós

o rio da vida.

 

O jorro era único porém, 

nem sempre

estávamos em sintonia

 

-como a sede que sinto agora ...

 

 

 

 

 

Adriane Lima

 

 

 

 

 

 

Arte by Jen Mann 

Carregando a vida

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Desejo mãos que sejam solfejos
reflexos contidos entre
força e arrebatamento
nos soltaríamos ao infinito
como um canto
que embora adormecido 
nos recomponha a infância
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriane Lima
 
 

Arte by Omar Ortiz 

A moldura inalterável

 

 

Não há fábulas

sem sonhos

nem amores

sem feridas.

Assim, o palhaço

nobre esgrimista

ao sentir, que

acabaria matando

sua amada bailarina

apropriou-se da benevolência

dos amantes da aparência

lutou com pompa e

glória, contra seus pesadelos

e das armas fez florir

sua nova história.

Presenteou a bailarina, com

um par de castanholas

e uma rosa para o cabelo

e do alto de sua torre

observava-a rodopiar

entre as mãos o novo

brinquedo, a ensaiar

"passos dobles" e a

bater os pés em terra firme

Nessa hora, pela cabeça

lhe passou um filme

Entre seu riso e pranto

entendeu, que nunca a

tiraria para dançar.

E sem sua espada e em

silêncio, desceu da torre

como quem termina o ato.

e novamente atrás do picadeiro

agradeceu o seu exército de

mentiras, escolhidas pelo

destino e saboreou

a música que dizia :

 

 "Eu sei que o sonho era bom porque ela sorria até quando chovia."

 

 

 

 

 

 

 

 

Adriane Lima

 

 

 

 

 

 

 

Arte by  Gabriel Picart