terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Avidez do mundo






Ela costumava me chamar de passarinho
Mas,nunca parara para pensar
sobre o porquê de tal nome.
Até que me descobri uma Andorinha.
Sempre livre em meus voos
buscando meus iguais para fazer verão.
Em bando era mais feliz
rodopiava em balés a céu aberto.
Nas pistas escorregadias da vida
dobrava minhas asas e pausava
antes de novamente acreditar em novos voos.
Pairava sempre em lugares diferentes
pouco almejava além de voar.
Construí ninho, fiz ovos chocarem
e eclodirem duas belas aves
de puro amor maternal.
Dei colo, dei asas e permiti que cada um
fosse dono de seus próprios voos.
Como passarinho tive tudo e
dei tudo em delicadezas e fragilidades.
Abrigo e imensidão era o que eu mais
guardava sob minhas asas.
Poucos homens entendem de pássaros
nasceram egoístas e com sede de chão.
Aprenderam que pássaros merecem gaiolas
pois a liberdade os ofende.
Não nasceram com o coração desarmado
nem instintivamente pássaros.
Não sabem e não querem mudar a direção
necessitam bússolas como proteção.
Ela me entendeu Andorinha,
de fome ampliada, com euforia de ar,
perfumada em penas da mais híbrida
flor de poemas, onde juntas seguimos a mergulhar
num imenso silêncio de afetos
me mostrando que sou pássaro e eu a confirmar











Adriane Lima







Arte by Pat Erickson



sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Onde o amor deixa rastros




Dentro de ti
sou ave
abro minhas asas
para que me faça alçar voos
em plena tarde de céu chuvoso
 
dentro de ti
sou fera
abro minha boca
para que me faça ganir feito loba
em plena noite de céu sem lua
 
dentro de ti
sou estrangeira
sou tudo que desejo
sou tudo que desejas
 
dentro de ti
minha pele nunca está nua
reveste-se de aromas
pelos ares enaltecidos
 
dentro de ti
sou indolente e dócil
lânguida em entregas
dissolvente em gozos
 
dentro de ti
sou dona do tempo
que dentro de ti perdi
 
amor não me perca
dentro de ti
não tenho medo
 




Adriane Lima










Arte by Loui Jover



Uma espera, um sentido




Envolta em eterno desassossego
um lapso de pensamento
torna-me questionadora
um olhar se prende ao céu
respingado de brancas nuvens
uma flor amarela abriu
em baixo de minha janela
um bem-te-vi grita intermitente
e isso muda meu estado de espírito
fico procurando um milagre lá fora
que justifique a vida
hoje é um daqueles dias
que alguém chora
por um amor não recíproco
outro alguém casa
levando nas mãos flores da estação
outro alguém poda a grama
que cresceu após a última chuva
transpirando num sol escaldante
há sempre alguma beleza nisso
são ecos de um dia varrido
para baixo do tapete da lida
o conformismo do ente querido
que partiu para o desconhecido
é pele que pede carinho
vestindo a dor avistada
é anseio de voz que não chega
embebido no ontem que perdura
tento adivinhar o futuro
roçando em cada dedo em gatilho
a arma de amor é espúrio
vive emprestando passos previsíveis
tudo é possível na selva humana
gosto de ser gato em terra de leopardos

 




Adriane Lima





Arte by Christian Schloe
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