quinta-feira, 6 de março de 2014

O silêncio dos hibiscus



Minha natureza é estranha
a raiva me sobe
o sangue me jorra
e fico ainda mais efusiva

minha dor está nas linhas
meu eu nas entrelinhas
ambos se manifestam
e continuam lutando

na alquimia dos sentidos
entendo as energias
dou cor as euforias
muito embora poucas restem

no fundo não lamento
talvez o esquecimento
seja a maior redenção
alma que não fala
aprisiona o grito

já adiei tanta sede
frente ao copo
já sequei tanta água
dentro ao corpo

a vida cobra uma rotina
tomo um café na cama
abro as cortinas
vejo um céu nublado
pressinto ser pecado
me entregar a escuridão

deixo então, tudo fluir
o melhor sorriso a me vestir
embora dentro esteja em febre
reajo a toda combustão
raiva, incerteza e solidão
e a química produz efeito :

vou de frente ao espelho
me permito então errar
ao ter tentado enxergar
alento onde não havia

respiro fundo todo
esse sacrilégio
de um dia ter escondido
o tédio, que era viver
te inventando para existir

 


Adriane Lima






Arte by  Alessandro Marziano

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Mãos de música

 
 
 
Guarde em segredo
essa nossa paixão
em uma caixa preta
guardarei nossa canção
no fundo falso da gaveta
escondi a anotação
quando de mim se lembrar
pegue o violão
sente em um canto do quarto
ponha os pés descalços ao chão
vá dedilhando as cordas
como se tocasse meu coração
único, compassado
em pontas de dedos e aceleração
lembrando que assim 
percorria minha pele
e meu corpo em vão
façamos de tudo música
melodia, acordes
o que foi vibração
na memória
de algum lugar
ficará a saudade
e toda essa sensação
assim será a eternidade
solta em pleno ar
duas mãos,duas mãos
a razão sem razão
e a música que muda tudo  
 
 
 
Adriane Lima
 
 
 
 
Imagem retirada da net
 

O sentido inimaginável





Já dizia Sartre: o inferno
são os outros
e se fosse?
se fosse só saudade
saudade sem vontade
de nada
absolutamente nada


e se fosse só saudade
dessas que ferem
e não sabemos
se vem do outro


o segredo do que sou
inferno ou paraíso


saudade que
todo dia faz barulho
é do outro
sem precisão


feito o sorriso sem graça da mona Lisa
o entortamento da torre de Pisa
a extensão das muralhas da China


estão lá
todo mundo viu
o espaço, o átimo
é onde o inferno são os outros

 




Adriane Lima





Arte by Dario Campanile 
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