sábado, 15 de abril de 2017
Ora direis, criamos flores
Eu sei quando te amo
quando penso em você
e sorrio com os olhos perdidos
quando levanto e vou até
o meu jardim com uma xícara de café
nas mãos, lembrando sua indicação
de que era preciso
tirar a água antes que fervesse
quando ando pela casa pensando
o que fazer ao entardecer e tendo
a certeza da solidão como companhia
quando faço a grande alquimia entre
mil temperos e cheiros e danço na cozinha
como fazíamos aos domingos
quando minhas dores cinzas
transformam-se em tons alegres
e relembro de tantas coisas que aprendi
quando com minhas sombras me confundo
e busco teu corpo para abraçar
eu sei quando te amo
quando todas as metáforas fazem sentido
e sei que tudo na vida,
não valem os poemas que li
os medos dos quais fugi
quando não é mais segredo
as letras, as histórias, as bebedeiras
os lugares, as situações inenarráveis
que guardarei na memória
Adriane Lima
Arte by Geraldine Muller
sexta-feira, 14 de abril de 2017
Onde deixei minha via crucis
nesse dia silencioso.
A poeira tomou conta dos batentes
e tudo que penso é no vazio da queda
das formigas que por lá passeiam.
Até os pássaros resolveram não cantar.
Começo então, a contar tudo,
que está ao meu redor: ladrinhos,
árvores, galhos caídos ao chão.
Percebo então, os paradoxos desse mundo cão.
A lagartixa negra camuflada na parede branca,
a grama que cresce e mata as flores,
o animal que urina onde se alimenta,
o céu azul que é peso e me dói nos ombros.
E essas horas tristes, que nunca passam,
sempre um outro tempo de decepções.
Cristalizo-me por saber que de nada adiantaria
inverter o passo, correr para trás o tempo.
A dor de não pertencer a nada, só não é maior
que todos os sonhos roubados.
É dia santo bem sei, e toda verdade que há em mim
desfez os laços das mentiras que há em ti .
Abri minha caixa de mágoas, joguei uma a uma
na água escorrida da sarjeta e fui buscar minha alegria
exilada em alguma esquina, onde a vida já me sorriu
e eu distraída não prestei atenção.
Adriane Lima
Arte by Jan Saudek
Arte by Jan Saudek
Adocicados enganos
Eu sou aquela
que faz bonecos de neve
em pleno trópico quente
luta contra moinhos de vento
em pleno deserto da mente
escala montanhas de sonhos
deitada no sofá da sala
que retira a lama
tendo os pés em nuvens
a que doa o punho à navalha
sabendo que não corta nem água
que deseja a alma suja
retirando poesia dos dias
a que possuí castelos
e dorme na alcova
oposta a tudo
libertária de pássaros
em pleno voo
eu sou aquela
assustadoramente só
Adriane Lima
Arte by Galya Bukova
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