quarta-feira, 5 de julho de 2017

Das inúmeras razões



Nunca me salvo de mim mesma
aprendi a morrer todos os dias
afogada, decapitada, pisoteada

morro com as vísceras arrancadas
sob o olhar sádico dos que me cercam
sou a única que habita minha solidão

permito degolar-me para o silêncio
ser minha eterna aliada
diante dos lobos e homens lobotomizados

brindo com eles o mais puro vinho dos deuses
em grandes goles desse rito diário
que é ver a morte aconchegar-me

nos braços amantes e amigos
de quem já matei bem antes
em cada manhã distante






















Adriane Lima









Art by Juan Medina

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