sábado, 4 de fevereiro de 2012

Silêncios Primaveris




Hoje ao acordar pensei
triste teto
só te olham
com olhares imóveis
dos dias cansados
em que se estica
a cabeça acima
e se suspira
sons de agonia
ou de nostalgia 

Me sinto assim
tépida e obscura
branca feito a lua
perdida num céu
em meio a tarde
nada me invade
silêncio total

-tudo ecoa ao natural
 

um velho blues toca
com voz rouca
de acordes tristes
palavras árticas
feitas de saudade 

Feito de esperas mornas
quase primaveris
como o céu azul
que está lá fora
aqui dentro gris
 

-a música toma conta

Olho o teto branco
de novo
e o vejo nuvem
de meus blues sentença
vou ao chão
me enchem
em profusão
sonoros pensamentos
 
um verso
um inverso
de branco e solidão
e meu universo
indo parar na sarjeta
 




Adriane  Lima


Arte by Alberto Pancorbo

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Tango vontade




Ah, fosse a vida
como um passo de tango

Um acompanhar a dois
Conduzidos por firmeza
e encantamento

Ah, fosse a vida esse girar
De pernas compassadas
e aos pares
Um vai e vem entre olhares

Um deixar-se levar pela música
E o que ela provoca
Seria um bailar solto
Um bailar revolto
Descortinando vontades

Ao mesmo tempo cadência e
liberdade
Trocas, toques , sagacidade
Lição diária de desejo e repetição

Passos de um vai e vem
Melodicamente aplacando
Todos os sentidos

 
Adriane  Lima
 
Arte by  Jack Vettriano 

Olhos de Exílio




Por que teus olhos me procuram?
se já estou dentro deles
sou a loba olfativa
correndo estradas encantadas
sentindo o cheiro de teus cabelos
em noites enluaradas

Sonha-me de formas diferentes
cavalo solto, sem domação
talvez centauro, de crinas longas
infinito que não se embarca
laços profundos sem comunhão

Por que teus olhos me procuram?

se já estou dentro deles
temes ouvir a voz da razão
vindo de um iluminismo inseguro
onde teus olhos de distração
deixaram o biológico, ser o escuro

Quando me vês livre, o que pensas?
pássaro do chão ou do ar
asas abrindo em leque
de cores infinitas e leves
é assim que me imaginas ou
seria um peixe escorregadio
caindo de teu vazio

Por que teus olhos me procuram?
se já estou dentro deles
nas cores do amanhecer
alvorada furta-cor
a escorrer tudo que invade
onde desejas o renascer
de mitológicas vontades

E na imensidão livre dos sonhos
que entoas na canção de despedida
caminhemos pela  linha do mar
antes de varrermos o próprio exílio
e assim poderíamos ser
Terra avistada da Lua

Através dos fios da vida
vais me tecendo
entre sonho e realidade
teus olhos já não me veem 
vestida de claridade
e mesmo que seja tarde
descubro, que teus olhos tem vontades





Adriane Lima





Arte by  Marina Podgaevskaya
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