domingo, 30 de dezembro de 2012

Contratempos




Pior é aquela dor de quando acordo
e me olho no espelho 
e percebo que sou ainda
o velho disco riscado
o muro chapiscado
que ninguém consegue encostar
a rua sem ipês amarelos
a praça sem bancos e pássaros
a borboleta de asa quebrada
que já não consegue voar
a bola já furada sem um pé para brincar
o brinquedo jogado ao chão
o rádio sem pilha e botão 
a oração já esquecida
o beco sem saída que ninguém deseja entrar 
o poema que não consegui declamar
a ação sem atitude
o gado procurando açude
a sede em frente ao mar
mas, quem sou eu para me metamorfosear
desejo passando fome
solidão que me consome
como ser outro ao despertar
urgências vou vestindo
e me despindo do que não dá para esperar




Adriane Lima


 


Arte by Douglas Hoffmann






sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Rapsódia poética







Ao jorrar o sangue
vindo de reentrâncias 
compondo na dor e na alegria

esconderijos são abertos
à sorte de um mundo sozinho

seguimos:

relendo a sintaxe da vida
na fala entrecortada
na acidez interior
cuspindo a própria sede
de promessas alinhavadas

- tênue estrada
feita de um deserto interno
sem oásis de ternuras

caminhantes em próprias pernas
sonhos, ilusões e bravuras

amores já condenados
caminham no próprio espinho
âmago em desalinho

novo cordão ofertado
sonhos então consagrados
reviram a vida do avesso

fragmentos reversos
também alimentam a alma


 



Adriane Lima





Arte by Giuseppe Ferrando 

Paradoxo da tristeza




O corpo por perto
sente-se inativo
o que lhe resta ?

passional só a mente
displicentes comandos
involuntários sentires

nos atos se escondem
trêmulas lembranças

a ideia que perdeu
o acento, mas sente
ao centro um coração
que pulsa contido

vomitando incertezas 
vozes impensadas

fosse esqueleto
seria fóssil...

o que não é fácil
ser paradoxo
da tristeza cativa








Adriane  Lima
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...