De volta ao começo

 

 

E quem pagará as contas

da eletricidade de meu corpo
da água de meus olhos
da janela de minha'lma
das telhas do pensamento

sou peso e carrego
o vil metal entre os dentes

quando olho meu cachorro penso :
queria ser ele,por uns dias

comer,beber,receber amor
sem ter que pensar
em dívidas com alguém

ele é essencialmente feliz
por me pertencer

estou olhando
para dentro de mim
e busco acolhimento

no contra ponto
da história
as favas com absolutismos

de viver e deixai viver
na hora da sede
sou sempre a água

e essa conta ficará por conta
da maternidade

 

Adriane Lima

 

 

 

 

Arte by Marina Marin 

Encontrando suavidades

 

 

Gosto de

ser mulher

 

a vida é mulher

a poesia é mulher

 

mas, tempo é homem

e livro é homem

 

onde se dá a guerra

a flor da pele

ao pé da letra

 

onde brigo

com as palavras

que suavizam

as minhas dores

 

onde encontrar o eufemismo ...?

 

 

 

Adriane Lima

 

 

 

 

Arte by Omar Ortiz 

 

Poema invernal

Eu me desfaço
sou tantas entre
as surpresas da vida
vou me juntando
em personagens
para que possa
aguentar :
dores descabidas
ausências sentidas
arrogâncias cáusticas
nas horas vividas
me derreto em prantos
cada parte de meu corpo
se revela e se rebela
queima-me o pulsar
da solidão da noite
e nesse silêncio me
abranda o espírito
eu me transformo em outras
em pleno nascer do dia
teço em vocábulos mornos
a quentura interna
e assopro a nata
das palavras encobertas
é nesse liquido
que a poesia vence
e me encontra
na superfície
do que vai, me derretendo

 

 

 

Adriane Lima

 

 

 

Arte by  Edson Campos