quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Crônica: As cores do dia




Já li algumas histórias que falam em olhar e aprender sobre o mundo.
Não é fácil entender as lições diárias,muitas vezes precisamos desaprender sobre os homens,sobre conceitos,para de novo maravilhar-se com o brilho do pôr do sol, os animais,as flores,os tons diferentes que nos cercam.
Não sei, mas hoje a vida me trouxe mais um aprendizado.
A fragilidade que mora em cada ser vivo, seja ele animal ou humano.(nem sei se já diferencio um do outro!!).
Na verdade mero conceito pois, o homem racional anda mais irracional que muitos animais.
Da história hoje tiro a lição do acreditar, saber que muitas vezes não temos saída a não ser pela fé.
E foi então que na madrugada uma chuva forte derrubou o beiral da parte superior de minha casa, claro que achamos que era o fim do mundo, um barulho daqueles no meio do silêncio da noite foi assustador.
Abri a janela e sob a varanda do quintal estava lá um enorme pedaço de gesso e resolvi que então pela manhã pediria ajuda ao zelador para tirar isso de meu telhado.
Mas,logo cedo, como o silêncio é grande aqui em meu condomínio, ouço até mesmo uma Maria Fumaça de uma estação que fica a poucos quilômetros daqui, ouço os pássaros acordando, maritacas gritando.
E acho uma delícia estar em uma cidade grande cercada de natureza.
Mas, eis que a natureza me deu hoje a lição.
Ouvi piados incessantes, após tomar meu café e  seguir para por ordem em meu ateliê. Fui até a janela do quarto de minha filha o mais próximo de onde havia caído o gesso e lá vejo um ninho com filhotes de passarinhos, já grande com penas no corpo e um desespero no olhar e pelo tamanho dele vi que era um filhote de pomba.
As aves que a maioria das pessoas repudiam por transmitirem doenças, dizendo serem elas "nojentas".
Mas o que fazer, se ela escolheu meu telhado para  fazer seu ninho e agora aquele filhote estava lá desesperado e com frio.
Meus olhos se encheram de lágrimas, porque muitas vezes já me senti assim, amedrontada, sem saber quem me tirou o chão, o "ninho" interno, onde antes me sentia confortável.
E tive que acreditar que alguém viria me ajudar.E assim aconteceu, foi muito mágico, peguei uma caixa de papelão e um rodo e puxei o filhote para que ele não caísse no chão, já que sendo alto, ele poderia quebrar as asinhas e foi incrível ele caminhou até a caixa, entrando dentro dela como se soubesse que eu estava ali para salva-lo.
De longe vi uma pomba no muro observando tudo aquilo e tive a certeza de que era a mãe dele.
Coloquei-o na caixa, dei umas migalhas de pão e até mesmo ração do meu cachorro, claro que não entendo de  "pombas", mas pelo menos senti que ele estaria  agora protegido.
O que vou fazer pensei ... não sei, mas não poderia deixar ele morrer sem tentar ajuda-lo.
São sim, as aves pouco estimadas pela sociedade, sujam monumentos, calçadas, telhados mas, sempre me pergunto... quem invadiu o espaço de quem na natureza!
Dessa história concluo que há duas formas de ignorâncias: a que desconhece o valor de uma vida e só identifica beleza em pássaros coloridos e enfeitados  e aquela que vê interesses pessoais já que eu poderia joga-lo fora e fazer depois discursos para justificar meu ato.
Acredito que a lição aqui é a virtude de poder ter sido escolhida por eles para ajuda-los e com certeza preservar a vida de uma pomba que seja .
Mas, é uma vida e tudo depende do caleidoscópio que temos em nosso coração e que nos revela formas e cores infinitas dentro de cada lição.


Adriane Lima


( Imagem :Michael Cheval )

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