terça-feira, 1 de novembro de 2011

Desértica




Volto de minhas viagens em solidão
 hoje me vejo com outro silêncio
outras fronteiras a percorrer meu chão
 
Mais loba, mais livre, mais feroz
mais árabe 
mais árida de você

Desértica...
sem oásis, sem visão do teu querer

Menos farpas,onde me golpeei sem saber
uso outras vestes, o mesmo manto 
sob meu rosto a esconder

Fui ao deserto de uma  terra
que sempre sonhei conhecer
Aprendi a ser muralha
voltei para te esquecer

Desabituei-me da planície
cansei de correr
fiz-me montanha nesse sobe
e desce de sentidos
que servia teu bel prazer

Galopei-me em descompassos
de teu silêncio mordaz...
voltei,como sempre volto
em minhas íntimas desilusões

Hoje menos incerta
mais asa, mais areia
menos perguntas
menos respostas
do que quisera saber

E dos silêncios quero menos
quero agora cansei de não ter terrenos
para pisar o mundo à fora
 
Só agora voltei, para mim inteira
sem torturas, amarguras,
cárcere de tuas livres palavras
colada em noites de lua cheia

Espinhos, flechas certeiras
guerras internas
meus credos e teu desamor
ventos soprados
 ao lembrar o meu pavor


Me afogo em cova rasa
de não ter sido tocada em tuas verdades
calam as palavras e descolam os gritos
como raiz, que não sustentou a flor

Voltei para acordar do esboço
do risco, do retrato, do adjetivo
que não soubemos dar a esse amor

Voltei sim, estou aqui 
igual ou diferente
menos sonhos menos gente
contrária do que era ao sair

Parti machucada,crua 
vazia,cheia de incertezas 
silenciosa, pura e covarde
astuta mas sem maldade
banhada em gotas 
de orgulho e serenidade
 
Vim com a força dos Deuses que visitei por lá
sou hoje metade Dionísica, metade Socrática
metade visionária, metade contrária ao teu querer
 
Trago ramos de flores como oferenda
quero que as aceite 
Mas finja não saber,que são para você...

Adriane Lima 


*Poema feito em 2010 após voltar de uma viagem a Cuzco (Peru)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Com cuidado...



Não,eu não sei conjugar
o verbo cuidar
Encharco,seco
nunca sei a medida exata
para doar

Mato orquídeas por aguá-las demais
mato certezas por secá-las em meu peito
não tem jeito
verbo cuidar difícil acertar

Pais e filhos
plantas e animais
seres vivos
se cuidar
cuidar de si
cuidar de ser
tão breve é o existir
tão leve é o cuidar
quem vai me fazer acreditar 
Cuidar...

Cuidado:
meu peito não tem dobradiças
 
 
Adriane Lima

Meu Homem



Homem solo 
o cheiro de tuas raízes
me vem no vento
e feito alento
sei onde está
meu coração

Homem asas
teu silêncio
me faz sonora 
embora saiba que
tua demora é
mansidão


Homem ar
me sufoca ao
me lembrares
além dos mares
que já fui carne
da pele tua

Homem  lua
se me flutua
além do espaço
darei meus braços
te abrigarei

Homem  água
sei que teus seixos
me moldarão
em tuas curvas
navegarei

Homem terra
signo do solo
já me consolo
por seres uno
e me transformares
no melhor de mim

Noite e dia
nostalgia
pássaro de fogo
sol translúcido
névoa e conflito

Em você habito
o mesmo sangue
do externo e interno
de nossos universos paralelos




Adriane Lima 


Arte by  :  Marina Podgaevskaya  
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