sexta-feira, 14 de março de 2014

A liquidez dos sentidos



Não,ninguém sabe
o quanto pesa
fazer um poema
e depois outro
e mais outro
e amontoa-los
em caixas

sobre estantes empoeiradas
sob memórias póstumas
sonhos equivocados
recheados de palavras
densas ou envoltas em asas

a matéria : - palavra
pesa muito
até quando cala

nada te devo
gritarei ao poema

para a poesia
ainda devo e muito
é desse lirismo
que ainda me visto

não, ninguém sabe
o quanto pesa
essa minha caixa
de poemas

tão pouco eu
que sonho fazer
uma imensa fogueira
e transforma-los
em fumaça

nuvens de poesias
se moverão
em meu céu
logo,logo


 



Adriane Lima





arte by Mihai Christe

quinta-feira, 13 de março de 2014

Poética constatação




Ao varrer a casa
noto que na vassoura
emaranham-se fios de cabelos
eis que meu gato os pega
como fossem um grande novelo
percebo-me então
Ariadne nesse labirinto casa
cômodos, embates e portas
onde o tempo obrigou-me
a perdê-los

 



Adriane Lima




Arte by Christian Schloe 

Sabores estacionários




O gole de café  pela manhã
sabor deglutido e sentido quente
na garganta
ao entrar no corpo
hoje cansado

na fragrância
evaporam as lembranças
da menina ou da mulher
que um dia fui

no peito gélido
apunhalo marcas
onde tuas mãos
eram presentes
se falo do amor
de menina
minha alma e meu corpo
sonham

se falo do amor
de mulher
minha alma e meu corpo
sangram

o que me importa
a todo custo
é que o amor
ajude a conservar
esse mistério vivo












Adriane Lima








Arte by Jordi Diaz Alama
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