sexta-feira, 30 de maio de 2014

Crônica : Retórica de um gato






O homem quer ser peixe e pássaro, a serpente quisera ter asas,o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta, a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca, mas o gato quer ser só gato
...E todo gato é gato do bigode ao rabo, do pressentimento à ratazana viva, da noite até os seus olhos de ouro.
                                             

                                    Pablo Neruda 





E ao ler essa Ode ao gato, pensei: - Que me desculpe Neruda,mas meu gato tem asas, tem escamas, o encantamento da lua,tem listras da zebra e olhos de uma deusa egípcia.
Acredito mesmo que seja feito de tantos seres especiais ,que seus dons vieram naturalmente através da seleção da espécie.
Li que os gatos têm o símbolo lunar ,como a deusa Isis,magnetismo que gera a vida para aqueles que o cercam, dando lhes iluminação psíquica e física.
E vejo que meu gato tem mesmo uma unicidade e o aprendizado de um ser que veio pronto,exageradamente pronto de um universo sideral e onírico, que eu desconhecia.
Vejo que tem "personas" tão visíveis em seus gestos que ele não pode ser só gato e também não pode ser algo comum do bigode ao rabo.
Meu gato tem um jeito da contemporaneidade do pintor Picasso pois,com suas unhas afiadas em minhas pernas e braços faz lindos traços geométricos e torno-me a própria mulher desfigurada.
Tem também um certo requinte de Dior,remodelando minhas roupas cheias de laços e tiras penduradas,com uma habilidade incrível,transformando-as,atualizando-as.
Ah, meu gato entende também de arquitetura e vejo um pouco de Gaudi em sua arte, ergue blocos de madeira,entra em caixas,separa botões que vê pelo chão de meu ateliê.
Vive se lambuzando de tintas de minhas paletas que encontra pela mesa, alternando cores e combinações.
Tem também seu instinto preservado,corre atrás de besouros,borboletas que voam pela casa a dentro.
Não perde de vista nada que balança pelo ar,deve ter herdado isso de Santos Dumont,o sonhador que amava olhar para o céu imaginando aviões.
Com ele, aprendi umas noções de Yoga ,quando está sentado, se lambendo ,se esticando,se dobrando para alcançar lugares distantes através do contorcionismo.
Sem contar seu ar egípcio,quando adota a posição de Queóps, frente a janela. Não há nada que me tire da ideia que ele está a anos luz daqui.
Sua imponência e ar enigmático deve ter mesmo inspirado as pirâmides. Acredito ser essa a razão de ser considerado um ser sagrado e ser adorado pelos antigos faraós.
E pensar que cresci ouvindo : - Gatos ,são seres que não gostam de humanos,que não se deixam cativar.
Que grande tolice! Meu gato é minha sombra,e me faz tantas vezes tropeçar nele em uma competição de quem desce as escadas primeiro por pura diversão.
Por seus miados sei que está com fome ou se a "caixa de areia" está suja,sim... ele sabe ser autolimpante !!
Onde estou ele está e não gosta de ficar sozinho.
Já conhece meus horários, onde me deito para ler,e também para digitar. Garanto que logo estará digitando de tanto me observar.
Quando fecho o teclado, sai correndo para meu quarto, sabe ser a hora de irmos deitar.
Dorme em minha cabeça e nessa hora, sinto toda sua ternura, vem a tal "ronrronância" que já apelidei de "motor da felicidade",pois, quando ele está em harmonia comigo, trata logo de ligar essa máquina interna que só os gatos possuem.
Seus olhos imensos,não perdem nada do se passa ao redor e quando começo a escrever ,muitas vezes fica difícil,são pelo menos umas dez patadas na caneta e uns seis pulos pelo caderno.
Sem contar que minhas mãos são sempre seus brinquedos favoritos.
Claro que tudo isso, não passam de teorias, que venho imaginando, ao observar esse felino pelo qual me apaixonei.
Sabe Neruda, de você conheço os poemas e sua história, mas,acho que você não conheceu de perto essa espécie de felino.Quero lhe contar por que dei ao meu gato,o nome de outro poeta e não o seu. Acontece que houve um desconcerto,quando li esse seu poema e não consegui concordar com você! ".
Meu gato não é só gato da cabeça ao rabo... como você escreveu!!
Por isso, não o chamei de Neruda, porque quando o ganhei, era essa a minha intenção!!
Mas, confesso que mudei !!! - aqui,brinco com o título de seu livro : Confesso que vivi !!!
Dei-lhe o nome de Leminski, um poeta que vivia à beira das explosões poéticas vanguardistas , assim como meu gato que vive(em arroubos)como se fosse vários seres, em um só.
Mas,há um porém ,que gostará de saber:ele também tem Paulo no nome,como você! Isso quer dizer,que continuo admirando-o muito,apesar do Desconcerto!
Paulo ou Pablo ,meu gato é um poema ambulante ,um amor animal-humano que estou aprendendo a transcrever !!!!
Brindaremos agora ,com um belo vinho chileno, a toda sua obra maravilhosa, eu e meu gato com nome de poeta,porque bem sabemos que poesia é ofício !!!!


 




Adriane Lima






Arte by Tatiana Deriy

Um comentário:

  1. O gato "são" mtos. Exímios observadores. Imunes acrobatas usado no título da postagem anterior.

    Do gato nunca se sabe tudo. Como dito em uma parte de teu felino texto,
    são poemas ambulantes, um tanto Cervantes, ciumentos até a alma, sombras de Gaudi a te seguir os passos. Gatos respiram no tempo futuro. Enxergam o escuro q ninguém vê. Só tendo o privilégio de ser adotado por um gato para saber...

    Eu fui adotado por uma. Chamava-se Sandra, por q apareceu na minha vida como uma Maria Aparecida. Como a canção de Gil q ouvia, qdo ela apareceu...

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