segunda-feira, 28 de maio de 2012

Intra-muros



Engraçado pensar assim
que intra-muros nos delimitam
espaços cortados de pluralidades
por ruídos entendemos
estar vivas em nossas particularidades

Às sete horas, chega diariamente
às dezesseis, a ouço fechar janelas
e nesse intervalo de tempo
sei que lá dentro
encontra-se ela....

A empregada da vizinha
que lá fica sozinha
o dia inteiro
lava,esfrega,aspira,
canta, cozinha
do lado de cá posso ouvi-la

Imagino-a de um jeito todo meu
como ela também deve  me imaginar

Como será que ela me imagina?   
será que pelas músicas que ouço ?              
pelo silêncio que faço?
por conversar com meu cachorro?
ou pelo fato de me ver
tão só quanto ela ?

Cada uma em seu espaço
cada uma no seu corre-corre
dessa vida moderna
ela,sai cedo de sua casa
para arrumar outra
que nem é dela

Todos os dias 
do outro lado do muro
está alguém que não vejo

seu barulho está em toda parte
e através dele, eu construo
minha visão de poesia



Adriane Lima 




Arte by  Eric Montoya

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Poema essencial



Escrever não é arte
é um pacto de sangue
que fiz com as letras
com versos coloridos
e sem sentido

É o que trago hoje comigo
poesia vã, inglória
sem significados
sem dor e sem recados
que possam me revelar

Hoje ela soa mecânica
apenas ato
fato esse que não aceito
então ela me dói a alma
me trava os dentes

Assim como a arte
que faço em minhas tardes
também me soa mecânica

movimentos repetitivos
como repetitiva ficou a vida

Que me dói os ossos
e não me libera as mãos
mesmo que não saia a escrita
o que guardo é o que grita

Todo ato perdeu o sentido, é fato
e a poesia se eternizou em mim

 
 
 
 
Adriane Lima  
 
 
 
 
  Arte by Miroslav Yotov

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Caprichosa...mente




Sobras, restos, sinas
desencantos e convicções
que moram hoje em mim
igual sujeira deixada
em uma festa
após os convidados
irem embora

assim ficou nossa história
irremediavelmente inacabada

A música que não dançamos
o cigarro que não trocamos
o gole de vinho não derramado
o sol renascido
da esperançosa manhã

E passou e passamos
assim como os desenganos
a falta de planos
os desafetos concretos
e tantas certezas vãs

Fones que não tocavam
rotas sem bússolas
silêncio que assustavam
e direcionavam a morte em nós

Verdades que você trouxe um dia
para fixar histórias,feito raiz
blefes ao meu coração enfático
derreteram-se ao pó da estrada
feito cal soprado de giz

Pelo medo de saber-me enlaçada
faço de minha poesia
a raiva pisada
por você não ter provado
o sabor do meu pecado
mas hoje, o amor já foi usado
fechando assim , a cicatriz ...

Adriane  Lima
Arte by Jeffrey Barson
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