Ela era a flor mais bonita daquele imenso jardim, entre jasmins, acácias, orquídeas e rosas, sua coloração vermelho-sangue a destacava das demais flores.
Embora o perfume se misturasse entre tantas outras daquele lugar.
E mesmo estando escondida entre o muro e a hera, ela continuava dando flores, crescendo e brotando novos galhos, feito braços buscando luas.
E entre eles havia trocas,quase que um antropismo feito por quem a polinizou ali, a hera e seus ramos despencavam nela feito um carinho e o muro lhe dava sombra, não a ofuscando jamais.
Até que um dia o dono do jardim, acreditando que ela estava lá sufocada e escondida, julgando que ninguém estava vendo sua real beleza, pediu ao jardineiro que a mudasse de lugar.
E assim foi feito, ela ganhou um lugar de destaque no jardim, não estava mais oprimida entre o muro e a hera, naquele antigo canto esquecida.
Poderia agora florir livre em novas primaveras, o sol estava tomando conta de cada galho, naquele final de agosto feito de securas e esperas.
E cada dia um pedaço de seu corpo foi se transformando, ela foi caindo e murchando.
Perdendo o brilho e a cor.
Vendo isso, seu dono inconformado se perguntava, como poderia isso ter acontecido se ele, havia lhe dado o melhor lugar de todo jardim e ela parecia agora morrer.
Eis que seu jardineiro respondeu, que isso seria normal nos primeiros dias, pois a dor de uma mudança, sempre quebra o brilho de uma flor.
Lá onde ela agora estava havia sol, havia espaços suficientes, havia destaque para seus galhos crescerem e darem mais flor.
Acontece que ela já estava acostumada a viver amparada pelo muro a sombreá-la, ela não queria destaques, ela queria a sombra, queria companhia e enroscar-se na hera, que nunca a prejudicou.
Trocavam carícias escondidas, palavras em forma de versos, entre pássaros e muitas cores.
Mas ela não teve como escolher. O destino escolheu por ela.
E assim ela sofreu, o descompasso de sua condição de flor.
Ninguém pode dizer, que ela não tentou, pediu ajuda ao sabiá que lhe trouxe canto em forma de amor, depois veio um canarinho pousar em seu galho e dar-lhe carinho, mas de nada adiantou.
O beija-flor vendo aquilo, fez-lhe visitas todos os dias e em seu voo apressado, fez-lhe pausas inusitadas, tentando ver se ela sentindo-se amada teria forças para brotar e da seiva arrancada da terra, florir de novo em seu resplendor.
Mas de nada adiantou...
Cada dia que passava mais morria a flor.
Vieram inúmeras borboletas fazerem cócegas em suas folhas, tentaram malabarismos mas ela não reagiu, ela ficou imóvel entre pássaros e borboletas e então...Sucumbiu.
Suas raízes não mais a sustentavam, as folhas foram murchando e ali naquele imenso jardim ela acabou definhando, perdeu o brilho, perdeu as flores, perdeu amizades e amores.
Pobre flor, não teve escolhas, não souberam entender que mesmo oprimida, ela ainda brotava, lhe deram espaço mas lhe arrancaram vontades próprias.
Mostraram um novo mundo que ela não tentou viver, suas pétalas descansaram ao chão ,sua raiz secou, perdeu o viço, perdeu a cor.
E todas as flores ao seu redor tentaram entender: porque o medo impediu mudanças, o espaço aberto de um novo viver ao invés de dar-lhe luz e esperança, encheu a flor de insegurança e uma implacável vontade de morrer .
Muitas vezes as sementes vão parar no lugar certo, mas nem sempre podem brotar...
Foi tempo apressado, tempo errado, de homens que não entendem de flores que não querem ir.
Só querem ficar quietas em algum lugar esquecidas e assim... Flor(ir)...
Adriane Lima
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