Desenhando Sonhos
E no silêncio do fim de tarde
vejo o céu recheado de pássaros
fugindo da chuva
Fecho a janela e os pingos que caem
vão formando desenhos diferentes
uns se unem aos outros e vão ficando
maiores adquirem novos feitios
Iguais aos pássaros
marionetes soltas no céu
ora ,fazem círculos,
ora ,dão rasantes
não em canso de olhar
essa dança acrobática
E nessa hora de contemplação
ponho-me a pensar
para onde irão os pássaros
e os pingos da chuva...?
Para onde irão ?
E me entrego ao tempo
cinzento,friagem e vento
jogo meu pensamento
num saudosismo só meu
Para onde foram
as músicas que não dancei ?
os beijos que nunca dei?
as pessoas que não mais encontrei ?
A noite bateu em minha janela
e com ela o meu cansaço
e um cálculo até trágico
Amanhã é segunda -feira
e onde estarão
os pássaros
os pingos de chuva
e a minha solidão
Talvez perdidos de novo
em um outro poema
Adriane Lima
que poema incrível esse... me trás inúmeras reminiscências... o poema de um amigo, acho que meu primeiro amigo poeta, que falava justamente de uma tarde chuvosa e um pássaro na janela, e ele foi declamar em um concurso, estava com bata e calça branca, e chinelas – aquela época não era moda – e tentaram impedir que ele se apresentasse. Seu argumento: “se vocês não conseguem entender a simplicidade dos meus pés, então por favor, não ouçam meu poema”... depois fui eu, por aí, estava lá na Amazônia olhando o céu pela janela do apartamento, quando passaram dois pássaros em um voo reto, e atrás deles o banzeiro (um vento forte que sopra por lá) fazendo ondas no ar, como que seguindo as aves... finalizo um poema com essa imagem, “sou o vento implacável a correr, inutilmente, atrás dos pássaros”... tem ainda a sensação que me levou a escrever As Tardes, a antecipação da solidão... e acho que o que mais me pega, aquilo que não fiz... para onde foram as musicas, os beijos, as pessoas?... não quero saber, quero fazer....
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