quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Conto :Transe Poético






"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical.
A experiência da beleza tem de vir antes”. (Rubem Alves)





Um homem desce de um carro e caminha pelo gramado em minha direção.
Passos largos, está bem arrumado, traz nas mãos uma espécie de caixa preta que tem a forma de um instrumento musical.
Ele a carrega pela alça e não sei ao certo identificar se ali estaria um sax, uma guitarra ou um violão.
Vendo-o caminhar em minha direção, entrei em um transe quase poético ou melhor dizendo, dramático, de minha imaginação.
Indaguei-me: E se lá dentro ao invés de um instrumento musical estiver uma arma?
E então, pensei também o oposto:
Se nas mãos de tantos outros homens houvessem instrumentos musicais ao invés de armas?
Se ao invés de dispararem balas, disparassem acordem, bolinhas pretas saídas de diversas partituras.
Notas suaves como as de Mozart ou incandescentes, feito Pink Floyd, Led Zepelin!
Viagens musicais...bolhas de sabão soltas no ar...
O homem se julga tão sábio e no fundo não entendeu ainda que a sensibilidade da vida o faz maior que toda brutalidade.
Até mesmo as antigas guerras paravam no inverno pois, diante de tais movimentos da natureza, o homem é um ser frágil.
O essencial está na busca do paraíso de cada um.
O poderio de fogo não faz do homem melhor do que aquele que carrega sons na ponta dos dedos.
Homens...homens...o bem maior está no coração!
Gostaria de dizer-lhes, carreguem instrumentos musicais ao invés de armas.
Palavras e solidariedade ao invés de disputas covardes.
Toquem a melodia da vida com gestos de liberdade.
Dormir em paz, é a maior verdade que um homem pode alcançar.
Eu, ao acordar desse transe místico, fiquei olhando ele atravessar o gramado e pensei: Bendito sejas homem que caminha pela grama como quem pisa em nuvens...
Vá para sua festa, sua orquestra ou seu ensaio solitário.
Você carrega consigo o dom da música, o tom da vida e o símbolo da paz.
Viver é sair por ai, procurar a cena feliz ou ao menos tentar sonhar com uma, como eu hoje fiz.

Me fiz leve em meu transe!!!





Arte by Lizze Ritchies

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